Novos Desafios da Sociologia Produzido com objetivo de apresentar temas relacionados às Ciências Sociais e assuntos da Educação e Cultura Geral
sábado, 9 de novembro de 2013
Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira
A meritocracia esconde, por trás de uma aparente e aceitável “ética do merecimento”, uma perversa “ética do desempenho”. Numa sociedade de condições desiguais, pautada por lógicas mercantis e formada por pessoas que tem não só características diferentes mas também condições diversas, merecimento e desempenho podem tomar rumos muito distantes. O Mário Quintana merecia estar na ABL, mas não teve desempenho para tal. O Paulo Coelho, o Sarney e o Roberto Marinho estão (ou estiveram) lá, embora muitos achem que não merecessem
http://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira#.Un1gzkIf1xk.facebook
Vândalos e Baderneiros (completo)
Filme curta documental que reflete sobre os conceitos de vandalismo e baderna. Tentando desconstruir o discurso midiático e do senso comum associado a uma campanha de criminalização de manifestações e protestos. Para alcançar um entendimento mais complexo e crítico sobre os termos.
sábado, 7 de setembro de 2013
Cientistas desenvolvem simulador de mídias sociais
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Junho/2013
Elton Alisson | Agência Fapesp

Um dos desafios com os quais se deparam ao tomar essa decisão, no entanto, é prever o impacto que as campanhas terão nessas mídias sociais, uma vez que elas apresentam um efeito altamente “viral” – as informações se propagam nelas muito rapidamente e é difícil estimar a repercussão que terão.
“Se antes uma pessoa divulgava uma informação no boca-a-boca para mais três ou quatro pessoas, agora ela possui uma audiência que pode chegar aos milhares de seguidores por meio da internet. Daí a dificuldade de prever o impacto de uma ação em uma mídia social”, disse Claudio Pinhanez, líder do grupo de pesquisa em sistemas de serviços da IBM Research – Brazil – o laboratório brasileiro de pesquisa da empresa norte-americana de tecnologia da informação – à Agência FAPESP.
Para tentar encontrar uma resposta a esse desafio, o grupo iniciou um projeto em parceria com pesquisadores do Departamento de Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP) a fim de desenvolver um simulador capaz de prever o impacto das ações de comunicação em mídias sociais com base nos padrões de comportamento dos usuários.
Os primeiros resultados do projeto foram apresentados no início de maio durante o 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation, realizado na cidade de Saint Paul, no estado de Minnesota, nos Estados Unidos e, posteriormente, no Latin American eScience Workshop 2013, que ocorreu nos dias 14 e 15 de maio no Espaço Apas, em São Paulo.
Promovido pela FAPESP e pela Microsoft Research, o segundo evento reuniu pesquisadores e estudantes da Europa, da América do Sul e do Norte, da Ásia e da Oceania para discutir avanços em diversas áreas do conhecimento possibilitados pela melhoria na capacidade de análise de grandes volumes de informações produzidas por projetos de pesquisa.
Segundo Pinhanez, para desenvolver um método inicial para modelar e simular as interações entre os usuários de redes sociais, foram coletadas mensagens publicadas por 25 mil pessoas nas redes no Twitter do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de seu adversário político, Mitt Romney, em outubro de 2012, último mês da recente campanha eleitoral presidencial norte-americana.
Os pesquisadores analisaram o conteúdo das mensagens e o comportamento dos usuários nas redes de Obama e Romney, de modo a identificar padrões de ações, a frequência com que postavam mensagens, se eram mais positivas ou negativas e qual a influência dessas mensagens sobre outros usuários.
Com base nesse conjunto de dados, desenvolveram um modelo de simulação de agentes – um sistema por meio do qual cada usuário avaliado é representado por programas individuais de computador que rodam integrados e ao mesmo tempo – que indica as probabilidades de ação na rede de cada uma dessas pessoas, apontando qual o momento do dia mais provável para publicar uma mensagem positiva ou negativa com base em seu histórico de comportamento.
Uma das constatações nos experimentos com o simulador foi que a retirada dos dez usuários mais engajados nas discussões realizadas no Twitter do presidente teria mais impacto na rede social do que se o próprio Obama fosse excluído.
“Esses resultados são preliminares e ainda não temos como dizer que são válidos, porque o modelo ainda é inicial e muito simples. Servem, contudo, para demonstrar que o modelo é capaz de mostrar situações interessantes e que, quando estiver pronto, será muito útil para testar hipóteses e responder a perguntas do tipo ‘será que a frequência com que o presidente Obama publica uma mensagem afeta sua rede social?’”, disse Pinhanez.
A IBM já possuía um sistema que permite a análise de “sentimento” – como é denominada a classificação do tom de uma mensagem – de grandes volumes de textos em inglês e em fluxo contínuo (em tempo real de informação), que a empresa pretende aprimorar para disponibilizá-la no Brasil.
“Estamos trabalhando para trazer uma série de tecnologias e adaptá-las para a língua portuguesa e à cultura brasileira, uma vez que o Brasil é o segundo país mais engajado em redes sociais no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”, afirmou Pinhanez.
Desafios
Segundo os pesquisadores, um dos principais desafios para a análise de sentimento de mensagens publicadas nas redes sociais no Brasil é que o português usado nessas novas mídias costuma não seguir as normas cultas da língua portuguesa, e isso não se deve, necessariamente, ao fato de o usuário não dominar o idioma.
“Existem convenções de como se escrever de maneira cool nas redes sociais”, disse Pinhanez. Por causa disso, um dos desafios no Brasil será o de incorporar o novo vocabulário surgido nesses fóruns.
Além disso, os textos são mais curtos e informais do que os publicados em sites de avaliações de filmes, por exemplo, como o do Internet Movie Database, em que os comentários são mais longos, mais bem formatados e rotulados.
“Com base nesse tipo de critério, podemos saber, de antemão, qual o sentimento do texto: se o usuário deu muitas estrelas para o filme é que ele está falando bem. E se deu poucas estrelas é porque sua avaliação foi negativa”, disse Samuel Martins Barbosa Neto, doutorando do IME e participante do projeto.
“A linguagem usada no Twitter é muito mais natural. Há muita expressão e variações de palavras, o que torna muito mais complicada a classificação das mensagens. Às vezes não se tem informação suficiente para assegurar que, de fato, um determinado tweet é positivo ou negativo, uma vez que ele não tem um rótulo que permita compará-lo com outros. Por isso, muitas dessas mensagens precisam ser rotuladas manualmente”, explicou Barbosa Neto.
Outro desafio é extrair dados das redes sociais. No início, o acesso aos dados das mensagens de redes, como o Twitter, era totalmente aberto. Hoje, é limitado. Além disso, o número de informações geradas por redes sociais cresceu exponencialmente, impondo aos pesquisadores o desafio de extrair mostras significativas de grandes volumes de dados para validar suas pesquisas.
“A rede do Obama no Twitter deve ter chegado aos 25 milhões de seguidores. Como podemos apenas extrair uma pequena parte desses dados, o desafio é garantir que eles não sejam enviesados – representando, por exemplo, apenas um nicho de seguidores – para gerar um resultado válido”, explicou Barbosa Neto.
Colaboração de pesquisa
Roberto Marcondes Cesar Junior, professor do IME-USP e orientador do trabalho de doutorado de Barbosa Neto, conta que o projeto de desenvolvimento do simulador de rede social é o primeiro realizado por seu grupo em colaboração com a IBM Research – Brazil.
O grupo do IME trabalha há dez anos no desenvolvimento de projetos de análise de dados usando modelos estatísticos em áreas como Biologia e Medicina, para descobertas de novos genes e de redes gênicas, por exemplo. E, mais recentemente, começou a desenvolver pesquisas para a aplicação de modelos matemáticos em Ciências Sociais.
“Ingressamos nessa área com o intuito de aplicar as mesmas técnicas matemáticas e computacionais em situações em que os dados provêm de alguma atividade humana, especificamente, em vez da ação de um gene ou de uma proteína, por exemplo, e vimos a oportunidade de trabalhar essas técnicas em redes sociais, que, do ponto de vista abstrato, têm muitas semelhanças com uma rede gênica, porque são redes que conectam elementos”, comparou Marcondes Cesar, que é membro da Coordenação Adjunta de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP e coordena o Projeto Temático “Modelos e métodos de e-Science para ciências da vida e agrárias”.
“Enquanto em uma rede gênica os elementos são os genes, que trocam informação bioquímica, em uma rede social os integrantes são os usuários, que trocam mensagens de texto”, disse.
A parceria com a IBM Research – Brazil, segundo Marcondes Cesar, possibilita implementar as ferramentas desenvolvidas na universidade. Para facilitar a realização do projeto, o estudante de doutorado orientado por ele foi contratado como estagiário pela empresa.
“Temos feito muitos projetos em parceria com universidades e instituições de pesquisa. Acreditamos muito em inovação aberta e atuamos bastante dessa forma”, disse Pinhanez.
Segundo Pinhanez, poucos grupos de pesquisa no mundo tentaram desenvolver um simulador de mídias sociais, em grande parte pela dificuldade de se montar uma equipe multidisciplinar de pesquisa.
“Acho que, pela primeira vez, a comunidade científica tem algo parecido com o mapa de quem conhece quem no mundo. É um mapa ainda incompleto, cheio de erros e enviesado, mas o nosso trabalho é uma das primeiras simulações de comportamento de um número tão grande de pessoas”, afirmou. “Antes, quando se fazia isso era, no máximo, com 300 pessoas, e era preciso ficar coletando dados por anos.”
O artigo Large-Scale Multi-Agent-based Modeling and Simulation of Microblogging-based Online Social Network, de Pinhanez e outros, pode ser lido nos anais do 14th International Workshop on Multi-Agent-Based Simulation.
Fonte: Agência Fapesp
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Ritos Corporais entre os Nacirema. MINER, Horace.
Um bom antropólogo se sente familiarizado com a diversidade das culturas. No entanto, as crenças e práticas dos Nacirema são tão inusitadas que devemos apontá-los como um exemplo dos extremos a que o comportamento humano pode chegar.
É interessante conhecer alguns dos rituais dos Nacirema, povo até hoje não bem compreendido. Trata-se de um grupo que vive em um território que se situa entre os Cree do Canadá, os Yaqui e Tarahumare do México e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw deu origem a sua nação.
A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evoluiu em rico habitat natural. Apesar de o povo dedicar muito do seu tempo às atividades laborativas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são despedidas em atividades rituais. O foco destas atividades é o seu próprio corpo, cuja aparência e manutenção aparecem como o interesse dominante deste povo.
A crença fundamental dos Nacirema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e para a doença.
Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar estas tendências através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial.
Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos deste grupo cultural têm muitossantuários em suas casas, e, de fato, a alusão à riqueza de uma casa é feita em termos do número de tais centros rituais. Mesmo as moradias menos resistentes têm as câmaras de culto feitas das mais ricas paredes de pedra. Embora cada família, tenha pelo menos um dos tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias coletivas: são cerimônias privadas e secretas. Os ritos que ali acontecem são discutidos apenas com as crianças e durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios.
O ponto central do santuário é uma caixa embutida na parede, onde são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem as quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Estes preparados são conseguidos através de uma série de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são alguns feiticeiros, cujo auxílio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os “médicos-feiticeiros” não fornecem diretamente aos seus clientes as poções de cura, eles apenas decidem quais devem ser seus componentes e então os grafam em uma linguagem que só é entendida pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dádiva, providenciam o encantamento necessário.
Os Nacirema não se desfazem das poções após seu uso, mas as colocam na caixa-de-encantamentos do santuário. Como estas substâncias mágicas são específicas para cada mal e os males do povo – reais ou imaginários – são muitos, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais suas finalidades e temem usa-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que o que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente a qual são efetuados ritos corporais, irá de alguma forma proteger o crente.
Todos os dias cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a caixa de encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução. As águas sagradas vêm do Templo da Água da comunidade, onde os sacerdotes executam elaboradas cerimônias para tornar o líquido ritualmente puro.
Na hierarquia da feitiçaria, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito ao prestígio, estão os “sagrados homens-da-boca”. Os Nacirema tem um horror quase patológico, e ao mesmo tempo uma fascinação, com relação à cavidade bucal, cujo estado acreditam que, se não fosse pelos rituais bucais, seus dentes cairiam, suas gengivas sangrariam, suas mandíbulas se contrairiam, seus amigos os abandonariam e seus parceiros os rejeitariam.
Estes feiticeiros têm uma impressionante coleção de instrumentos, consistindo de furadores, sondas e agulhas. O uso destes objetos no exorcismo dos demônios bucais envolve para o paciente uma tortura ritual quase inacreditável. O sacerdote-da-boca produz cavidades onde são colocadas substâncias mágicas. O propósito destas aplicações é tolher a degeneração e manter amigos.
Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, o latipsoh, em cada tribo. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o milagreiro, mas um grupo permanente de vestais que, com roupas específicas, movimentam-se serenamente pelas câmaras do templo.
Os cerimoniais no latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer dos prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou qual seja a emergência, os guardiões de muitos dos templos não admitirão um nativo se ele não puder dar uma dádiva valiosa. O suplicante que entra no Templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Ora, na vida cotidiana, o Nacirema evita a exposição de seu corpo e de suas funções naturais. As atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são realizados sempre em segredo. Da perda do segredo do corpo logo na entrada no latipsoh, resultam traumas psicológicos profundos. Um homem, cuja própria companheira nunca o viu no ato de excretar, acha-se subitamente nu a auxiliado por uma vestal, enquanto executa suas funções naturais em um recipiente sagrado. Este tipo de tratamento cerimonial é necessário porque os excrementos são utilizados por um adivinho para averiguar a natureza da enfermidade do cliente. Os suplicantes têm seus corpos nas submetidos ao escrutínio e aguilhoadas constantes.
As cerimônias diárias envolvem desconforto e tortura. As vestais inserem bastões mágicos na boca do suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas. De tempos em tempos, o médico vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam matar o neófito, não diminui de forma alguma a fé das pessoas nos médicos-feiticeiros.
Resta ainda um outro tipo de profissional, conhecido como um “ouvinte”. Este bruxo tem o poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas enfeitiçadas. Os Nacirema acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios filhos, particularmente teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-mágica do bruxo é especial por sua carência de ritual. O paciente simplesmente conta ao “ouvinte” todos seus problemas e temores, desde suas dificuldades iniciais. A memória demonstrada pelos Nacirema nessas sessões de exorcismo é notável.
Há um ritual típico que é desempenhado apenas por homens. Trata-se de laceramento da superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em renúncia é compensado em barbaridade. Como parte destas cerimônias, mulheres introduzem suas cabeças em pequenos fornos por cerca de meia hora.
Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão ao corpo no seu estado natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes.
Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser esse povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo.
MINER, Horace. “Ritos Corporais entre os Nacirema” In: ROMMER et al.
You and Others: Readings in Introductory Anthropology. Cambridge ,
Winthroop Publishers, 1973.
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