Buscamos
refletir sobre a estética africana que busca resgatar a cultura afro,
fator comportamental importante de integração e resistência a uma massificação
calçada no estereotipo, ou seja, a cultura dominante branca que impõem seus
padrões, vizando a homogeneização visual, onde todos os fatores devem convergir
para o conceito de “belo“.
O
corpo ao longo da história se tornou um emblema étnico e sua manipulação
tornou-se uma característica cultural marcante para diferentes povos.
Ele é um símbolo
explorado nas relações de poder e dominação para classificar e hierarquizar
grupos diferentes. Deste modo o corpo humano é apropriado e construído
socialmente e culturalmente e cada sociedade determina o que pode ser mostrado
e quais partes do corpo são destacadas. Portanto se o corpo nos permite revelar
a estrutura de uma sociedade em particular, então no corpo podemos encontrar os
sinais de dominação e subordinação.
O cabelo como identidade
O
corpo como linguagem, mas a cultura escolheu algumas das suas partes como
veiculo de comunicação. O cabelo é uma delas elemento visível e destacado do
corpo.
O entendimento da
simbologia do corpo negro e dos sentidos da manipulação de suas diferentes
partes, entre elas, o cabelo, pode ser um dos caminhos para compreender a
questão da identidade negra em nossa sociedade. Em torno da manipulação do
corpo e do cabelo negro existe uma vasta história. Uma história ancestral
e uma memória. Há também significados e tensões construídas no contexto das
relações raciais e do racismo brasileiro.
É importante destacar a dimensão simbólica dos
cabelos nas representações dos negros.
Cabelos são marcas identitárias e como a cor da pele é a característica fenotípica
que historicamente distingue os negros dos brancos. Sobre este assunto Sobre
este assunto Nilma Lino Gomes afirma que:
“O cabelo negro,
visto como “ruim”, é expressão do racismo e da desigualdade racial que recai
sobre o sujeito. Ver o cabelo como ‘ruim” e do branco como “bom” expressa um
conflito. Por isso mudar o cabelo pode significar a tentativa do negro sair do
lugar de inferioridade ou a introjeção deste.” ( Gomes, 2003)<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->
Trata-se de um processo perverso e antigo de
desvalorização das características dos negros, o cabelo crespo do negro é
“ruim” e os cabelos dos brancos, como cabelo “bom”. É um processo
classificatório e consequentemente propõem uma hierarquia, conferindo valor e
superioridade a características de uma raça em relação a outra.
Entre um padrão de beleza real e um ideal estamos
em uma zona de conflito, o padrão ideal é branco, mas o real do Brasil é negro
e mestiço.
Ao analisar mais atentamente os comerciais de
cosméticos e tratamento estético dos cabelos crespos a mensagem sublinhar que
nos é apresentada é que ele é um problema. Problema este por ser um elemento
diferenciador usado historicamente para classificar a cor da pele.
Atualmente, as mulheres e, em uma extensão menor
que os homens, dispõem de uma grande variedade de cortes e penteados por meio
dos quais podem "falar", negociar e se situar. As mulheres podem
deixar os cabelos encaracolados, submetê-los a relaxamento ou usá-los ondulados;
os homens podem adotar cortes quadrados (também chamados caixa), fazer desenhos
à máquina nos cabelos,usá-los cacheados ou fazer uma variedade de tipos
de tranças (Figueiredo 1994).[2]
Neste sentido podemos compreender que para o negro
a intervenção no cabelo é muito mais que uma vaidade ou intervenção estética
ele é identitário e elemento revelador de pertencimento a uma origem eticnica.
O seu significado também pode ser visto a partir do modo em que ele é cortado,
tratado, alisado, raspado ou trançado ele pode nos revelar a identidade, os
conflitos, as idealizações e aspirações de seu dono.
É interessante observar que o negro nos dias de hoje diante da
representação construída de seu cabelo e com o acesso as novas tecnologias e
centro de belezas especializadas no corpo negro e cabelo crespo possibilitam a
este se apresentar de uma forma esteticamente “aceitável” socialmente para
sociedade brasileira. A pergunta que fica será que esta intervenção esta
contribuindo para a diminuição dos apelidos e tratamento preconceituosos nos
espaços públicos.
Estas reflexões sobre a estética negra como
elemento de auto – afirmação busca contribuir para desvelamento do preconceito
e da discriminação racial em nosso cotidiano.
Partindo da idéia de que a identidade negra é
construída não só a partir do olhar que o negro tem de si, mas também na
relação que ele tem com o olhar do outro sobre ele, não só o
que é refletido no espelho importa. Há um espelho do lado de fora que joga com
as imagens e com os padrões estéticos. Esse espelho é a sociedade.
É com essa atmosfera conflitiva, vivida numa
sociedade marcada na sua estrutura por um racismo ambíguo e pelo mito da.democracia
racial, que busco refletir sobre a valorização dos padrões estéticos negro numa
dinâmica que procura levar ao negro elementos de autovaloriação estética e
social.
A
intervenção no corpo negro é apenas pano de fundo das representações negativas
sobre o negro e a reversão desta como estratégia de orgulho e afirmação
étnico-racial.
Esta reversão nos possibilita entrar em
contato com a história, memória e herança cultural africana presente na
formação cultural afro-brasileira.
[1] Gomes, Nilma Lino. Educação, identidade e formação de professores (as): Um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, p. 167-182, jan./jun. 2003.
<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> FIGUEIREDO,
Angela. "O Mercado da Boa Aparência: As Cabeleireiras Negras”. Análise
& Dados (Centro de Informações e Estatísticas do Estado da Bahia),
1994.
Muito interessante o comentário sobre identidades negras. O presente artigo serviu como estímulo para leitura do livro da professora Nilma Lino que aborda como muita precisão sobre questões que envolvem os pertencimentos negros.
ResponderExcluirValeu pelo comentário.Abs.
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