terça-feira, 4 de setembro de 2012


* Dilson Marsico: Resumo do Ensaio de Antropologia - ETNOLOGIA AFRO – BRASILEIRA ;Reflexões sobre a valorização da estética africana como elemento de auto-afirmação, 2008

Buscamos refletir sobre a estética africana que busca resgatar a cultura afro, fator comportamental importante de integração e resistência a uma massificação calçada no estereotipo, ou seja, a cultura dominante branca que impõem seus padrões, vizando a homogeneização visual, onde todos os fatores devem convergir para o conceito de “belo“.
O corpo ao longo da história se tornou um emblema étnico e sua manipulação tornou-se uma característica cultural marcante para diferentes povos.

Ele é um símbolo explorado nas relações de poder e dominação para classificar e hierarquizar grupos diferentes. Deste modo o corpo humano é apropriado e construído socialmente e culturalmente e cada sociedade determina o que pode ser mostrado e quais partes do corpo são destacadas. Portanto se o corpo nos permite revelar a estrutura de uma sociedade em particular, então no corpo podemos encontrar os sinais de dominação e subordinação.


O cabelo como identidade


O corpo como linguagem, mas a cultura escolheu algumas das suas partes como veiculo de comunicação. O cabelo é uma delas elemento visível e destacado do corpo.
O entendimento da simbologia do corpo negro e dos sentidos da manipulação de suas diferentes partes, entre elas, o cabelo, pode ser um dos caminhos para compreender a questão da identidade negra em nossa sociedade. Em torno da manipulação do corpo e do cabelo negro existe uma vasta história. Uma história ancestral e uma memória. Há também significados e tensões construídas no contexto das relações raciais e do racismo brasileiro.

É importante destacar a dimensão simbólica dos cabelos nas representações dos negros.
Cabelos são marcas identitárias e como a cor da pele é a característica fenotípica que historicamente distingue os negros dos brancos. Sobre este assunto Sobre este assunto Nilma Lino Gomes afirma que:

“O cabelo negro, visto como “ruim”, é expressão do racismo e da desigualdade racial que recai sobre o sujeito. Ver o cabelo como ‘ruim” e do branco como “bom” expressa um conflito. Por isso mudar o cabelo pode significar a tentativa do negro sair do lugar de inferioridade ou a introjeção deste.” ( Gomes, 2003)<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->

Trata-se de um processo perverso e antigo de desvalorização das características dos negros, o cabelo crespo do negro é“ruim” e os cabelos dos brancos, como cabelo “bom”. É um processo classificatório e consequentemente propõem uma hierarquia, conferindo valor e superioridade a características de uma raça em relação a outra.

Entre um padrão de beleza real e um ideal estamos em uma zona de conflito, o padrão ideal é branco, mas o real do Brasil é negro e mestiço.

Ao analisar mais atentamente os comerciais de cosméticos e tratamento estético dos cabelos crespos a mensagem sublinhar que nos é apresentada é que ele é um problema. Problema este por ser um elemento diferenciador usado historicamente para classificar a cor da pele.



Atualmente, as mulheres e, em uma extensão menor que os homens, dispõem de uma grande variedade de cortes e penteados por meio dos quais podem "falar", negociar e se situar. As mulheres podem deixar os cabelos encaracolados, submetê-los a relaxamento ou usá-los ondulados; os homens podem adotar cortes quadrados (também chamados caixa), fazer desenhos à máquina nos cabelos,usá-los cacheados ou fazer uma variedade de tipos de tranças (Figueiredo 1994).[2]


Neste sentido podemos compreender que para o negro a intervenção no cabelo é muito mais que uma vaidade ou intervenção estética ele é identitário e elemento revelador de pertencimento a uma origem eticnica. O seu significado também pode ser visto a partir do modo em que ele é cortado, tratado, alisado, raspado ou trançado ele pode nos revelar a identidade, os conflitos, as idealizações e aspirações de seu dono.

É interessante observar que o negro nos dias de hoje diante da representação construída de seu cabelo e com o acesso as novas tecnologias e centro de belezas especializadas no corpo negro e cabelo crespo possibilitam a este se apresentar de uma forma esteticamente “aceitável” socialmente para sociedade brasileira. A pergunta que fica será que esta intervenção esta contribuindo para a diminuição dos apelidos e tratamento preconceituosos nos espaços públicos.

Estas reflexões sobre a estética negra como elemento de auto – afirmação busca contribuir para desvelamento do preconceito e da discriminação racial em nosso cotidiano.



Partindo da idéia de que a identidade negra é construída não só a partir do olhar que o negro tem de si, mas também na relação que ele tem com o olhar do outro sobre ele, não só o que é refletido no espelho importa. Há um espelho do lado de fora que joga com as imagens e com os padrões estéticos. Esse espelho é a sociedade.


É com essa atmosfera conflitiva, vivida numa sociedade marcada na sua estrutura por um racismo ambíguo e pelo mito da.democracia racial, que busco refletir sobre a valorização dos padrões estéticos negro numa dinâmica que procura levar ao negro elementos de autovaloriação estética e social.
A intervenção no corpo negro é apenas pano de fundo das representações negativas sobre o negro e a reversão desta como estratégia de orgulho e afirmação étnico-racial.

Esta reversão nos possibilita entrar em contato com a história, memória e herança cultural africana presente na formação cultural afro-brasileira.



[1] Gomes, Nilma Lino. Educação, identidade e formação de professores (as): Um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, p. 167-182, jan./jun. 2003.


<!--[if !supportFootnotes]-->[2]<!--[endif]--> FIGUEIREDO, Angela. "O Mercado da Boa Aparência: As Cabeleireiras Negras”. Análise& Dados (Centro de Informações e Estatísticas do Estado da Bahia), 1994.

Foucault - Sociedade Disciplinar


Tempos Modernos-Parte 1


terça-feira, 19 de junho de 2012

Novo Código Florestal Brasileiro qual é a versão final ?


A votação do novo código florestal brasileiro mais uma vez foi adiada após longas reuniões durante o dia de ontem foi apresentado minutos antes da votação com diversas alterações e segundo especialistas cheio de pegadinhas.

O que esta em jogo na aprovação do Novo Código Florestal   é a defesa de um código que regule as demandas para o futuro ou atender a já conhecida bancada  ruralista e isentar de qualquer responsabilidade os danos causados por desmatamento e degradação ambiental .

Para entendermos melhor reproduzo Artigo do engenheiro florestal Tasso Azevedo publicado no jornal O Globo



Freio de arrumação

Nesta semana está programado entrar em pauta de votação na Câmara dos Deputados a proposta de novo Código Florestal. O relator da proposta e seus apoiadores na chamada bancada ruralista conseguiram um efeito manada que pode levar à aprovação açodada de uma lei que ao invés de ampliar a proteção das Florestas irá fragilizá-las brutalmente.

Ouso dizer que a maioria dos deputados que pretende aprovar o texto esta semana sequer leu o documento ou pelo menos o fez com o mínimo de atenção. Na primeira tentativa de votação, o documento de 28 páginas, 69 artigos e mais de 200 dispositivos foi apresentado na segunda-feira à tarde para ser votado no dia seguinte. Mesmo com adiamento para esta semana, o grau de complexidade é imenso e a disposição para o diálogo tem sido, até o momento, limitada.

Se tivessem lido, teriam percebido que será necessário mais de uma centena de emendas, ajustes e correções para fechar as inúmeras goteiras deste guarda-chuva de proteção das Florestas que deve representar o Código Florestal.

Fiz esta leitura cuidadosa nos últimos dias ao mesmo tempo em que outros três especialistas, e cada um apontou pelo menos cinquenta pontos que precisam ser revisados entre distorções, falhas, erros conceituais e outras imperfeições.

Apenas a título de exemplo, o texto proposto retira a proteção de mangues e veredas (art. 4), isenta milhares de hectares de reparação de danos causados por Desmatamento e degradação ilegal deFlorestas (art. 13), determina práticas de Manejo Florestal tecnicamente equivocadas como a priorização do corte de espécies pioneiras (art. 24), cria mecanismo para prorrogar indefinidamente a regularização ambiental das propriedades rurais (art. 35), vulgariza o conceito de interesse social que passa a incluir praticamente qualquer atividade (art. 3) e ignora o papel do Conselho Nacional de Meio Ambiente - oCONAMA -, que desaparece do novo Código Florestal.

Para piorar, a chamada bancada ruralista esta tão confortável com a vitória que já planeja apresentar um conjunto de emendas para aprofundar ainda mais as distorções e a fragilização dos mecanismos de proteção das Florestas, certos de que poderão aprovar todas com ampla maioria.

Este tema é muito sério para ser tratado de forma quase unilateral pelo setor rural brasileiro. A integridade das Florestas é interesse nacional pela sua importância fundamental na regulação do regime hídrico da qual dependem nossa energia elétrica, o saneamento ambiental e a própria produção agrícola. É absolutamente legítimo que diversos setores da sociedade estejam pedindo mais debate e cautela com este tema.

Frequentemente é utilizado o argumento, muitas vezes correto, de que o atual Código Florestal, emendado por uma MP não votada há mais de dez anos, cria insegurança jurídica. Mas o texto do novo código é tão problemático que vai gerar muito mais insegurança jurídica, e, desta feita, com um formato que na dúvida quem perde é a floresta, o bem de interesse comum.

Para todos os projetos de lei é necessário avaliar os custos da implementação da lei e apontar de onde virão os recursos para fazer frente a estes custos. Assim acontece por exemplo na criação de um novo programa de investimento ou um novo órgão.

É preciso se fazer uma avaliação de qual será o custo para o Brasil da aprovação deste novo Código Florestal, tanto pela anistia de multas e sanções como no potencial impacto na produção de energia, disponibilidade de água ou mesmo o impacto sobre as metas da política nacional de Mudanças Climáticas.

É preciso fazer um processo de concertação sério que defina com clareza os princípios, as diretrizes e as metas para gestão de Florestas no Brasil (por exemplo, qual é nossa meta de conservação de cobertura florestal em cada um dos Biomas) e a partir daí revisar e adequar, de forma serena e clara, o novoCódigo Florestal Brasileiro de modo que este possa ser digno deste nome. Este sentido de propósito e responsabilidade é o que se espera de nossos congressistas.