terça-feira, 19 de junho de 2012

Novo Código Florestal Brasileiro qual é a versão final ?


A votação do novo código florestal brasileiro mais uma vez foi adiada após longas reuniões durante o dia de ontem foi apresentado minutos antes da votação com diversas alterações e segundo especialistas cheio de pegadinhas.

O que esta em jogo na aprovação do Novo Código Florestal   é a defesa de um código que regule as demandas para o futuro ou atender a já conhecida bancada  ruralista e isentar de qualquer responsabilidade os danos causados por desmatamento e degradação ambiental .

Para entendermos melhor reproduzo Artigo do engenheiro florestal Tasso Azevedo publicado no jornal O Globo



Freio de arrumação

Nesta semana está programado entrar em pauta de votação na Câmara dos Deputados a proposta de novo Código Florestal. O relator da proposta e seus apoiadores na chamada bancada ruralista conseguiram um efeito manada que pode levar à aprovação açodada de uma lei que ao invés de ampliar a proteção das Florestas irá fragilizá-las brutalmente.

Ouso dizer que a maioria dos deputados que pretende aprovar o texto esta semana sequer leu o documento ou pelo menos o fez com o mínimo de atenção. Na primeira tentativa de votação, o documento de 28 páginas, 69 artigos e mais de 200 dispositivos foi apresentado na segunda-feira à tarde para ser votado no dia seguinte. Mesmo com adiamento para esta semana, o grau de complexidade é imenso e a disposição para o diálogo tem sido, até o momento, limitada.

Se tivessem lido, teriam percebido que será necessário mais de uma centena de emendas, ajustes e correções para fechar as inúmeras goteiras deste guarda-chuva de proteção das Florestas que deve representar o Código Florestal.

Fiz esta leitura cuidadosa nos últimos dias ao mesmo tempo em que outros três especialistas, e cada um apontou pelo menos cinquenta pontos que precisam ser revisados entre distorções, falhas, erros conceituais e outras imperfeições.

Apenas a título de exemplo, o texto proposto retira a proteção de mangues e veredas (art. 4), isenta milhares de hectares de reparação de danos causados por Desmatamento e degradação ilegal deFlorestas (art. 13), determina práticas de Manejo Florestal tecnicamente equivocadas como a priorização do corte de espécies pioneiras (art. 24), cria mecanismo para prorrogar indefinidamente a regularização ambiental das propriedades rurais (art. 35), vulgariza o conceito de interesse social que passa a incluir praticamente qualquer atividade (art. 3) e ignora o papel do Conselho Nacional de Meio Ambiente - oCONAMA -, que desaparece do novo Código Florestal.

Para piorar, a chamada bancada ruralista esta tão confortável com a vitória que já planeja apresentar um conjunto de emendas para aprofundar ainda mais as distorções e a fragilização dos mecanismos de proteção das Florestas, certos de que poderão aprovar todas com ampla maioria.

Este tema é muito sério para ser tratado de forma quase unilateral pelo setor rural brasileiro. A integridade das Florestas é interesse nacional pela sua importância fundamental na regulação do regime hídrico da qual dependem nossa energia elétrica, o saneamento ambiental e a própria produção agrícola. É absolutamente legítimo que diversos setores da sociedade estejam pedindo mais debate e cautela com este tema.

Frequentemente é utilizado o argumento, muitas vezes correto, de que o atual Código Florestal, emendado por uma MP não votada há mais de dez anos, cria insegurança jurídica. Mas o texto do novo código é tão problemático que vai gerar muito mais insegurança jurídica, e, desta feita, com um formato que na dúvida quem perde é a floresta, o bem de interesse comum.

Para todos os projetos de lei é necessário avaliar os custos da implementação da lei e apontar de onde virão os recursos para fazer frente a estes custos. Assim acontece por exemplo na criação de um novo programa de investimento ou um novo órgão.

É preciso se fazer uma avaliação de qual será o custo para o Brasil da aprovação deste novo Código Florestal, tanto pela anistia de multas e sanções como no potencial impacto na produção de energia, disponibilidade de água ou mesmo o impacto sobre as metas da política nacional de Mudanças Climáticas.

É preciso fazer um processo de concertação sério que defina com clareza os princípios, as diretrizes e as metas para gestão de Florestas no Brasil (por exemplo, qual é nossa meta de conservação de cobertura florestal em cada um dos Biomas) e a partir daí revisar e adequar, de forma serena e clara, o novoCódigo Florestal Brasileiro de modo que este possa ser digno deste nome. Este sentido de propósito e responsabilidade é o que se espera de nossos congressistas.

domingo, 4 de março de 2012

Histórias Cruzadas - O filme





Adaptação do livro  The Help, em inglês, por sinal, o filme tem o mesmo nome. Em português, entretanto, alguém teve a esdrúxula, injustificável e horripilante ideia de dar o tosquíssimo título de “Histórias Cruzadas”. Era preferível que se mantivesse a coerência e o batizasse, assim como na versão das legendas, de “A Resposta”. Faria mais sentindo e seria um título mais atraente. 

 Histórias Cruzadas aborda o  tema da segregação racial na extrema conversadora Mississipi, mas não abre mão de no fim das contas de ser superficial.Durante os anos 60, começava a efervescência na luta pelos direitos de igualdade racial. E a trama de Histórias Cruzadas vai nesse sentido, de forma mais superficial. A região foi berço da Ku Klux Klan (organização que perseguia com violência os negros), mas o tema é contextualizado superficialmente, assim como as rápidas referências a Martin Luther King. Ou seja, joga-se para o espaço qualquer questão política, mesmo com o mote sendo a vontade da jornalista Skeeter de, pela primeira vez, contar a história de quem era marginalizado pela sociedade. 

Histórias Cruzadas se sobressai principalmente pelas grandes interpretações, Viola Davis, Jessica Chastain, Octavia Spencer, Emma Stone e companhia. Sem elas, Histórias Cruzadas passaria batido, a história tem êxito dentro de sua proposta limitada, e assim se torna tocante.

• Sinopse: Mississipi, década de 1960. Skeeter acabou de terminar a faculdade e sonha em ser escritora. Ela põe a cidade de cabeça para baixo quando decide pesquisar e entrevistar mulheres negras que sempre cuidaram das "famílias do sul". Apesar da confusão causada, Skeeter consegue o apoio de Aibileen, governanta de um amigo, que conquista a confiança de outras mulheres que têm muito o que contar. No entanto, relações são forjadas e irmandades surgem em meio à necessidade que muitos têm a dizer antes da mudança dos tempos atingir a todos.
• Palavras-chave: amizade, racismo

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Compartilho atividade desenvolvida pelo professor  Prof. Ricardo Festi em torno da obrigatoriedade do ensino de sociologia .Buscando uma análise critica da matéria publicada na Revista  Veja de Set/2011



O ensino de Sociologia incomoda?


Esta atividade se refere ao debate sobre a obrigatoriedade do ensino de Sociologia nas escolas, aprovado em 2006. Leia o trecho abaixo extraído do nosso livro didático e analise o discurso da revista Veja. Em seguida, comente a qu estão:
Para Pierre Bourdieu, sociólogo francês contemporâneo, a Sociologia, quando se coloca numa posição crítica, incomoda  muito, porque, como outras ciências humanas, revela aspectos da sociedade que certos indivíduos ou grupos se empenham em ocultar. Se esses indivíduos e grupos procuram impedir que determinados atos e fenômenos sejam conhecidos do público, de alguma forma o esclarecimento de tais fatos pode perturbar seus interesses ou mesmo concepções, explicações e convicções.
Ora, uma das preocupações da Sociologia é justamente formar indivíduos autônomos, que se transformem em pensadores independentes, capazes de analisar o noticiário, as novelas, a televisão, os programas do dia a dia e as entrevistas das autoridades, percebendo o que se oculta nos discursos e formando o próprio pensamento e julgamento sobre os fatos, ou, ainda mais importante, que tenham a capacidade de fazer as próprias perguntas para alcançar um conhecimento mais preciso da sociedade à qual pertencem. (TOMAZI, N. Sociologia para Ensino Médio, p. 7. 2007)

Imagem, extraída da revista Veja de setembro de 2011, que circulou pelas redes sociais.

Na sua opinião, por que o ensino de sociologia incomoda tanto alguns setores da sociedade brasileira ?

Para auxiliar na atividade o professor recomenda a leitura do texto Tarefa da Sociologia de Zigmunt Bauman, extraído do livro didático na página 10. 

* Sobre Zigmunt Bauman, sociólogo Polonês, é professor emérito de Sociologia das Universidades de Leeds e Varsóvia, tem mais de 15 livros publicados no Brasil todos de grande sucesso.






terça-feira, 20 de dezembro de 2011

INTERATIVOS DEMAIS


Martha Medeiros : Revista O Globo, 28.08.2011


Antigamente, os escritores eram admirados apenas pelo que publicavam em livros e revistas. Quando algum leitor gostava muito do que havia lido e queria compartilhar com alguém,dava o livro de presente ou emprestava o seu. O conteúdo mantinha-se preservado, assim como seu autor. Ninguém divulgava um texto de Somerset Maugham como sendo de Virginia Wolf, ninguém infiltrava parágrafos do Rubem Braga num texto de Sartre, ninguém criava novos finais para os poemas de Cecília Meireles. O escritor e sua obra eram respeitados, e os leitores podiam confiar no que estavam consumindo.
Além disso, artistas de cinema, músicos e esportistas eram mitos a cuja intimidade não se tinha acesso. Marilyn Monroe, Frank Sinatra e Pelé entregavam ao público o que prometiam – sua arte – e o resto era especulação. Mais tarde pipocavam biografias, saciando a curiosidade do público, mas o legado desses ícones manteve-se incorruptível: eram os donos legítimos de sua imagem, de sua voz e de suas palavras.
Era uma época em que aceitávamos pacificamente nossa condição de plateia, até que se inventou o conceito de interatividade e as ferramentas para exercê-la. Por um lado, a sociedade ficou mais democrática, todos passaram a ser ouvidos, diminui-se a distância entre patrões e empregados, produtores e consumidores: as relações ficaram mais funcionais.
Mas o uso dessas ferramentas acabou involuindo para a maledicência e a promiscuidade virtual. Hoje ninguém consegue mais ter controle sobre sua imagem ou seu trabalho. Um artista de televisão diz “oi” para uma amiga na rua e na manhã seguinte correm notícias de que estão de casamento marcado. Uma cantora cancela um show porque está afônica e logo surge o boato de que tentou suicídio. Um escritor publica um texto no jornal e três segundos depois o mesmo texto está na internet, atribuído a Toulouse-Lautrec, que nem escritor é.
E no mundano da vida acontece algo similar. Fofocas se disseminam no Facebook, vídeos íntimos são divulgados no YouTube, fotos de modelos vão parar em catálogos de prostituição internacional e a credibilidade foi para o beleléu. Ninguém mais confia totalmente no que vê ou lê e isso pouco importa. Informações são inventadas, adulteradas, inexatas porque, por trás das telas dos computadores, há muita gente querendo ter seu dia de autor, mesmo que autor de uma mentira.
Sinto nostalgia pelo tempo em que éramos seduzidos de frente, não pelas costas. Não se sabia toda a verdade sobre nossos ídolos, mas o mistério era justamente a melhor parte.
Sentíamo-nos honrados por sermos receptores apenas do que eles tinham de melhor, o seu talento. Hoje não só engolimos qualquer factoide, qualquer manipulação, como também a produzimos. A invencionice suplantou a arte.